2005-06-30

#2 hotel

Os primeiros pingos de chuva começaram a cair, abriguei-me melhor no nicho decrépito onde me encostava e puxei as golas da gabardina para cima a fim de me proteger do frio que começava a gelar-me a espinha. Mesmo assim não estava resguardado o suficiente. Via agora através de lentes manchadas de água, deram-lhe uma graduação diferente e curiosa, fazendo brilhar mais os vermelhos dos faróis dos carros, bem como a luz nervosa do anúncio do hotel, ela gemia a neons rosa choque e azuis: “Vox Hotel”, a voz do pecado, a voz do prazer. Um antro a que nem o titulo de 1 estrela devia ser cedido. Sabia-se lá a quantidade de corpos que passavam nos mesmos lençóis no mesmo dia ou mesmo ao longo de dias? No entanto movimento não lhe faltava, era uma azáfama de clientes que se dirigiam a todos os quartos e os vagavam em uma hora ou hora e meia. Não havia dúvida que era popular. Tornava incompreensível perceber como havia tanta gente naquele fim de mundo à mesma hora! Carros convergiam para o parqueamento de seis lugares sempre lotado e acabavam por abandonar as carripanas num qualquer sítio ao lado da estrada única que rasgava a taciturna pastagem.

#1 hotel

Nuvens escuras no céu de fim de tarde, por baixo do telheiro vejo-as aproximarem-se, compactuam comigo, mas não são tão negras… no horizonte deitam-se os tascos do costume, velhos e decadentes, cujas tábuas de madeira semi-seguras por pregos ferrugentos caem de podres e servem de alimento aos bichos xilófagos, os hospedeiros da madeira mal tratada. Mais afastado à direita estava um grupo de edifícios de habitação em tijolo, desenhados a arte mural, fortes contraste dos brancos apagados pelo cinza ambiental e os verdes mortos onde alguns tijolos ainda sobre saem dos outros, estavam ainda por pintar. À esquerda, o local mais movimentado da minha paisagem, fiquei a observar o movimento dos carros que se aproximavam para largar passageiros, enquanto absorvia o meu cigarro meio apagado, cada bafo levava-lhe meio cm do comprimento, era o seu fraco incandescer que me fascinava e depois expelia o fumo que se enrolava lascivo à volta dos meus cabelos desalinhados ao sabor da brisa.

Encruzilhada


Os ramos das árvores balançavam suavemente ao sabor do vento, e eu escutava a sua voz. O cantar era doce, calmo e tão bonito que eu não podia compará-lo a nenhum outro que ouvira antes. Foi ao chegar perto da encruzilhada que a vi; estava no cimo da colina, com a lua cheia a brilhar por trás e o longo vestido branco a obedecer ao ondular do vento.
Continuava a cantar à medida que eu me aproximava da bifurcação. Para trás ficava já a densa floresta que eu tinha atravessado e os seus caminhos escuros, a partir dos quais nem uma estrela tinha conseguido vislumbrar.
A colina encontrava-se à minha frente e o meu caminho dividia-se em dois mais pequenos, um deles continuava para a esquerda e o outro para a direita. Ela parou de cantar quando cheguei à encruzilhada, embora aquela melodia ainda parecesse ecoar à minha volta durante mais alguns instantes.
Uma voz cristalina e bela soou, fazendo esquecer o frio:
- Recuai viajante, se o vosso coração ainda se encontra indeciso e dele não sai ânimo para vos aventurardes pelos maiores perigos conhecidos e desconhecidos das gentes de Fera; ou escolhei um dos caminhos que entram na outrora gloriosa cidade de Numa e dessa forma morrereis, pois nenhum aventureiro saiu até hoje com vida da demanda pelos seus tesouros.
Para além de bela, a voz era firme.
- Escolho o perigo, mas preciso saber que direcção tomar.
- Nesse caso – disse a guardiã – desejo que a vossa morte não seja muito dolorosa. Para a esquerda ireis encontrar o rio Sereno, que banha Numa e acompanha o caminho para a fortaleza onde se encontra guardada, por numerosas criaturas, a Grande Coroa, a mesma que outrora foi usada pelos majestosos soberanos de Fera, e outros grandes tesouros. Para a direita encontra-se a Colina Negra, de onde se avista Numa. Nela reside um poderoso necromante, cujo nome ninguém pronuncia e de cuja face ninguém se recorda, pois ninguém a viu e viveu para a poder descrever.
- Agradeço as palavras. Que a paz seja convosco.
Fiz o gesto habitual de cumprimento em Fera, inclinando a cabeça e tocando no peito e na testa com a ponta dos dedos indicador e médio unidos.
- Que ela te acompanhe, viajante.
Virei-me para o caminho que seguia para a direita e dei alguns passos.
- Viajante!
Parei, e voltei-me novamente para a guardiã.
- Podeis dizer-me porque ides para esse lado e não de encontro aos fartos tesouros de Numa, como a maioria daqueles que já por aqui passaram?
- O único tesouro que desejo apenas poderá ser encontrado por aqui.
Voltei-me e reiniciei a caminhada. Após ter dado mais alguns passos voltei a ouvir o canto da bela voz, cuja letra fazia referência aos viajantes que se tinham aventurado a Numa após a Invasão dos Mortos e de onde nunca regressaram. A partir dali já me encontrava bem fora da floresta. O caminho que eu escolhera atravessava uma planície que fazia fronteira com o Vale de Fogo a sudeste e numerosas colinas a noroeste. O Vale de Fogo era uma extensa região de precipícios que isolava toda a região a este.
Após algumas horas o caminho passou a ser a subir. A manhã estava perto e com ela o destino da minha viagem.

foto tirada na Damaia, Lisboa

2005-06-29

#7 sentir?



Caminhava por esses trilhos, vagueava no solo estéril enquanto me perdia na mente, não via para onde ia, simplesmente ia. Andava sem rumo, sem destino e misturava-me na bruma, procurava chegar ao outro lado.
Era outro mundo, um mundo mais vazio, cheio de cor e de morte, ninguém mais se avistava, nem mesmo o “meu cavaleiro alado”, como queria voltar a vê-lo, queria que ele fosse meu, mas ele estaria ternamente apaixonado pela outra pindérica magrizela. Nada; simplesmente o nada banhava a minha humilde existência e corroía a minha alma. Condenada estaria ao sofrimento precoce de quem imagina uma borboleta morrer, porque era isso que eu via, a beleza destruída pela inconsciência, tudo aquilo era belo e mortal, e eu correria um terrível perigo sob o signo daquele perfeito mundo. Um perigo de morte ou pelo menos era o que o meu desejo de protagonismo me dizia, para não me sentir dispensável.
Só aquilo existia; eu, aquele ambiente surreal e as minhas visões, as minhas imagens frágeis e desnecessárias que me apontam o limite e fim… era isto que previa, a destruição, a minha destruição guiada pela minha arrogância contaminada de dor.
Enraivecida por estar só uma vez mais num caminho importante e por ninguém ter dado valor ao que disse, eu sei que existe algo aqui, algo importante, algo novo, digno de se descobrir, porque é que ninguém me acredita? A minha cápsula havia ficado a alguns quilómetros e eu continuava a andar. O meu desejo era latente, queria chegar rapidamente ao outro lado e lá estaria o tesouro prometido, e nunca eles adivinhariam o que me tinham negado!
No bolso apertava um frágil pedaço de papel, tirei-o para fora e vi a imagem, contemplei-a, como era bela, a foto estava rasgada ao meio, o lado que faltava era o sítio perdido do meu pai… ahhh, a culpa foi dele, como pôde ele trocar-nos por aquele rapaz de 25 anos? Mas a minha mãe estava linda e feliz como eu nunca a tinha visto, um sorriso perfeito, não era o sorriso de fotografia antiga, era um sorriso genuíno a preto e branco… queria vê-la assim um dia.
E era este o panorama da minha vida, caminhando para o incerto, uma família destroçada, um coração partido, uma profissão perdida, um descrédito moral infinito… só me tinha a mim para me valer e ainda me destruía na minha insensatez de querer tudo… talvez nada estivesse para lá daquele nevoeiro e sob aquele sol escaldante, mas iria morrer tentando encontrar um meu oásis de felicidade…

Da ignorância do ser

Silêncio, complicação, Ninguém me percebe
Olham-me com olhos de quem não me vê.
Sou insignificante, estranham-me e ignoram-me.
Desafiam a minha mente com respostas inúteis.
Comentários ridículos ao que se deseja
Incompreensão, refutação da necessidade de sonhar
De extrair da vida algo mais que o mundano fornece
Passar além do banal e ser algo que quero ser.

Rascunho pop

A chuva batia com força no vidro da única janela da sala. “Este Inverno que nunca mais acaba (tens razão, mas não choveu muito durante o ano passado); não quero saber, detesto a chuva”. O silêncio reinou à minha volta e em mim durante alguns minutos. Diversos números e letras apareciam e desapareciam do ecrã do computador a uma velocidade vertiginosa. “Está quase terminado. Daqui a nada posso ir para casa descansar (tens um compromisso); quero descansar (é importante!); não me interessa, quero descansar.” Ele ia emitir de novo, mas refreei-o. Não dormia há dois dias e queria fazê-lo. O monitor continuava a vomitar números e eu mantive-me atento. A chuva batia com mais força no vidro da janela.
- Ah! Estás aqui!
“Bolas, logo agora”.
- Sim… fiquei um pouco mais. Vais-te embora?
- Ainda não. O que estás a fazer?
“Tens que te livrar dela (eu sei).”
- Nada de especial. Só a verificar os resultados de um programa.
- Queres companhia?
“Manda-a embora (como?); não sei, manda.”
- Preferia ficar sozinho. Não ando muito boa companhia, sabes…
“Se queres que ela se vá embora, tens que ser mais firme (eu sei); não vai resultar.”
- Não sejas idiota. Eu faço-te companhia. Estou só a completar as minhas horas, não tenho nada que fazer. Estar sozinho não é muito bom.
“Eu avisei-te! (deixa-me pensar); não estás a pensar, estás a olhar para as pernas dela.”
Ela puxou uma cadeira e sentou-se ao meu lado. Trazia um vestuário bastante reduzido, que eu não tinha a certeza se respeitava alguma das normas da empresa. É claro que, como superintendente, ela podia fazer o que bem entendesse. E cabia-nos suportá-lo.
- Conta-me lá, o que estás a fazer?
“Ela vai descobrir tudo!”
- Só estou a testar um novo procedimento. Nada de muito interessante.
“Controla-te.”
- Ora, então… Estamos aqui os dois… sozinhos… e tu estás concentrado num mísero programa sem qualquer interesse?
A mão dela começou a vaguear pela minha perna.
“Controla-te.”
- Eu… desculpa, mas preciso mesmo… de testar isto.
- Podes testar depois…
A mão dela continuou a vaguear pela minha perna, ao mesmo tempo que mordiscava uma das minhas orelhas.
“Controla-te (não consigo); precisas que o programa termine… (eu sei!).”
- Olha, eu preciso…
Não me deixou acabar, pois para além da perna e da orelha, assediou-me também os lábios com os dela.
“Já não vejo o monitor! (livra-te dela imediatamente); não consigo… (não consegues, ou não queres?)”
O assédio terminou assim que o computador resmungou “transferência efectuada”. A superintendente largou a minha perna e olhou para o monitor.
- Que é isto?! Que é que estás a fazer?
“Estragaste tudo (não!).”
Descobri que a superintendente tinha um pescoço macio, e que se o apertasse de uma determinada forma ela não conseguia gritar. Não demorou muito até o corpo atraente da minha superiora se tornar frouxo e repousar no chão.
Dirigi novamente a minha atenção para o monitor. A execução do programa tinha sido bem sucedida.
“Agora, sair daqui.”
Esconder o corpo da superintendente atrasou-me. Não tinha a certeza se os minutos de tolerância previstos no plano eram suficientes para uma fuga com sucesso. Saí da sala e tranquei a porta com um código de acesso. De seguida, meti-me no elevador.

#6 sentir?

Onde vais? Quero saber! Com quem vais?
Não te posso ver ir, como me retraça o coração!
Partes sem olhar para trás, sem ver como te quero abraçar!
Não vês como me apoquentas?
Que posso eu fazer além de esperar?
De te esperar, de esperar que voltes igual?
Não te quero profanada!
Só eu posso mudar-te, mexer-te! SÓ EU!
Que fazes tu? Porque partes tu sem o meu consentimento!
Desesperas-me, quero-te!
A minha raiva não se contenta com as tuas desculpas perdidas,
Com os teus dramas feridos pela minha ira.
Vou magoar-te! Quero ver-te sofrer!
Vais arrepender-te! E eu vou verter lágrimas de sangue por ti…
A minha dor será a tua dor, a minha mágoa a tua mágoa,
E não me importa que as minhas palavras enraivecidas e desconexas te sejam acutilantes;
Chorarás comigo a minha perda;
A tua perda… és minha e tu sabes disso,
Nada nem ninguém te pode consumir como eu.
Assassinarei meio mundo por ti,
Destruirei tudo até te conseguir proteger,
Tu és tu, e eu quero o que és, sou o teu parasita!
Atreves-te a abandonar-me? A sair por essa porta?
Não sou realmente importante para ti, eu sei… sinto…
Mas vais arrepender-te,
Porque o amor que te dou, que te tenho, jamais alguém terá igual.
Tu perdes-me, tu gastas-me, tu libertas-te de mim, ignoras-me e deixas-me só…
Não vás!
Odeio-te a teus pés, és a minha musa, a minha deusa, não vás!

2005-06-28

Um coelhinho...

Sorri-te alegremente como se nunca me tivesses feito gritar.
Olhei-te no fundo dos olhos como se nunca me tivesses feito chorar.
Toquei-te ao de leve na pele como se nunca me tivesses feito sofrer.
Amei-te profundamente como se nunca me tivesses feito morrer.
Quero sair deste ciclo que me faz sentir cada vez mais tonta.
Quero descer deste carrossel que me causa náusea.
Gostava de ser normal. Gostava de chorar e esquecer. Gostava de odiar.
Em vês disso estou presa a esta imagem distorcida e improvável de amor.
Perco o sentido de mim por persistir neste sonho impossível de felicidade.
Morro a cada sorriso perdido e a cada ilusão desfeita.
Sofro por não ter aquilo que já não quero.

#2 manifesto

Caros companheiros de jornada, devo constatar este facto… estamos sós e sem desculpas, criámos um fórum. ;)

#5 sentir?



Nada há mais solitário que a lua… chora todas as noites até desaparecer de angústia, no entanto tantos poemas lhe são destinados, tantas palavras cantadas, tantos violinos vibrados, por ela!
Quantos de nós partilhamos a sua dor? Basta sentar ao luar e contemplar a sua pálida tez… ela ilumina-se um pouco mais feliz na nossa companhia e nós partilhamos a sua frustração, longe e distante, morrerá sozinha como nós!

Da agonia do ser

Dores, desconforto.
Preciso de me livrar do mal em mim
Do excesso que fica e me tormenta.
Preciso de forças para alcançar a paz.
Só vejo pessoas sem problemas, elas não sabem o que é esta agonia.
Ver e não saber como me libertar.
Preciso do meu refúgio, do meu castelo onde me escondo e me liberto.
Olham com indiferença, não me vêm, se sentissem a tortura destes momentos.
Raiva de não estar assim.

#1 Lyrics

simplesmente a solidão que me bate o peito... aqui fica, The Smiths

I KNOW IT'S OVER

I can feel the soil falling over my head
And as I climb into an empty bed
Oh well. Enough said.
I know it's over - still I cling
I don't know where else I can go
Over ...
Oh Mother, I can feel the soil falling over my head
See, the sea wants to take me
The knife wants to cut me
Do you think you can help me ?
Sad veiled bride, please be happy
Handsome groom, give her room
Loud, loutish lover, treat her kindly
(Though she needs you
More than she loves you)
And I know it's over - still I cling
I don't know where else I can go
Over, it's over, it's over, it's over
It's over, la ...
I know it's over
And it never really began
But in my heart it was so real
And you even spoke to me, and said :
"If you're so funny
Then why are you on your own tonight ?
And if you're so clever
Then why are you on your own tonight ?
I know ...
'Cause tonight - it's just like any other night
That's why you're on your own tonight
Your triumphs and your charms
While they're in each other's arms..."
It's so easy to laugh
It's so easy to hate
It takes strength to be gentle and kind
Over, over, over, over
It's so easy to laugh
It's so easy to hate
It takes guts to be gentle and kind
Over, over
Love is Natural and Real
But not for you, my love
Not tonight, my love
Love is Natural and Real
But not for such as you and I, my love
Oh Mother, I can feel the soil falling over my head
Oh Mother, I can feel the soil falling over my head, oh ...
Oh Mother, I can feel the soil falling over my head
Oh Mother, I can feel the soil falling over my head
Oh Mother, I can feel the soil fall over my head
Mother, I can feel the soil fall over my head
Oh Mother, I can feel the soil fall over, fall over my head
Oh Mother, I can feel the ... fall over my ...
Oh ...

#1 manifesto

a pedido de muitas familias aqui fica um post de um comentário! viva todos os sentimentos humanos! que todos possamos sentir. Eis o manifesto.

isso, liberta a tua ira! o céu pertence aos bonzinhos, e nós não queremos ir para o céu, que ele só nos é prometido depois da morte, e eu cá para mim dúvido mesmo que exista algo depois da morte.... nós somos "maus", somos fieis a nós mesmos e o reino da terra será nosso! felizes seremos só se nos respeitarmos e fizermos vibrar a nossa vontade arrogantemente por os demais! somos perfeitos e livres, uns deuses na terra, não temos nada a temer.

Trálálálálá

Era uma vez 3 coelhinhos saltitantes, fofinhos, felpudos, amorosos...
BUMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMM
Desculpem lá. A história dos coelhinhos acaba aqui porque um troglodita com carta de caçador passou por cá e tratou-lhes da saúde.
Ninguém acredita em mim.
Ou então dizem que não sou humana.
Só por não conhecer o ódio???
Espero nunca vir a conhece-lo.
Acreditem que vocês também não querem que eu o conheça!
Se me empenhar em odiar cegamente como tenho amado cegamente toda a minha vida vou deixar muito cadáver no meu caminho.
Por agora continuo a ser um tolo coelhinho saltitante que deixa um rasto de monstros de ego inchado e barriguinha cheia pelo caminho.

2005-06-27

#4 sentir?



Eis a imagem a que me conforta! Não mais que um suspiro quebrado, não mais que um sorriso apagado ou um cometa caindo na eternidade, é simplesmente um momento parado… a fotografia perfeita; a liberdade que tem, nenhum outro SER terá…. Que nunca lhe escape a possibilidade de voar, de planar, de ser simples, a sua naturalidade arrojada arrebata-nos as possibilidades de um dia poder ser tão encantador na nossa complexidade… somos prisioneiros da sociedade, logo o nosso fascínio será sempre condenado à pompa, nunca seremos adoráveis só por ser, seremos adoráveis aos olhos de uma sociedade e isso separa-nos da simplicidade. Um momento como o de uma gaivota, simples e bela na sua fragilidade nunca nos será possível por termos estigmas profundos que nos impedem de vibrar simplesmente sem compromissos ou fachadas.

Da necessidade do ser

A luz do astro mor entra implacavelmente pela ausência de tijolos da minha parede.
Bate nos meus sensores, espelhos de algo que não sei se tenho.
Eu resisto.
Sons da vida chamam-me, não quero ouvir, quero manter-me na dormência moribunda que não me deixa ser.
Não quero ser.
Estico-me para agarrar alguma vida, alcanço algo que não é meu.
Mãos vazias, mãos dormentes.
Cérebro parado, a paz dos seres acéfalos, a beleza de não existir.
Não quero a vida, quero a passividade, a calma, não quero sentir.
Retumba o meu cérebro e os meus ouvidos.

#3 sentir?



Dizem que um artista necessita ensopar-se em depressão e decadência para alimentar a sua insatisfação e assim cria, criar como se não houvesse um amanhã, um génio se diria, e assim sustenta a sua dolorosa vida arrastando-se nos confins da mente e dançando no limiar da realidade exterior fazendo dela sua Musa.
Eu nem Artista da Fome sou, porque tenho que me deixar trespassar por esta dor que insiste em não me abandonar? Tento sacudi-la, mas em vão, já me faz parte da essência e amo-a, não me consigo imaginar sem ela! Seria um ser diferente, melhor ou pior? Seria indiferente, tais conceitos destruiriam a perfeição de se Ser. Somente sei que tristeza todos nós passamos e procuramos o nosso escape, de uma forma ou de outra manifestamos o nosso descontentamento ao Mundo!

#2 Sentir?

Este seria o ultimatum da minha Vida… mastigar-me-ia por uma hipersensibilidade berrante… sentiria todos os nervos do meu corpo como se nunca os tivesse usado antes – doridos e tensos. Sentiria a derme arrepiar-se num acto arrogante e os poros dilatarem-se de surpresa.

Os meus pensamentos seriam então tão lúcidos vibrando no meu cérebro, que os espectros dissipar-se-iam, abandonar-me-iam à minha sorte. Em vez das enevoadas sombras dispersas na complexidade de um eu eternamente perdido e dividido entre dois desejos – viver e morrer. Seria esta a minha dicotomia feliz, encontraria nesta opção o limbo da felicidade, um prolongamento da existência prezada, protegida somente pela inevitável queda e no entanto estaria suspensa por um fio de nylon e não quereria deixar de viver… que seja tudo sentido no limite, assim será tão mais real, como a última hipótese de sentir.
Mais intenso que a derradeira expiração… um sopro de vida!
Bastava que me encostassem uma arma à cabeça!

2005-06-26

#1 sentir?



deixo-a abracar-me, purificar-me e libertar-me destes grilhões que me atormentam os sentidos... um momento em que me encontro!

Img. : Ruben Molins

2005-06-21

Os 15 Mandamentos

• Faz o que quiseres, desde que não prejudiques os outros.
• Tenta distanciar-te do desejo materialista. Assim, serás incorruptível.
• Se tiveres filhos, protege-os com a própria vida. Se vires crianças em perigo, defende-as.
• Aprende a perdoar; no entanto, não deixes que se aproveitem disso.
• Os sentimentos são das coisas mais importantes que as pessoas têm. Não brinques com eles.
• Ajuda os outros quando recorrem a ti por necessidade e não por comodismo; nunca recuses água ou comida.
• O tempo é precioso. Não o percas com remorsos; aproveita-o para aprender com os erros e tentar compensar quem prejudicaste.
• Se fizeste uma opção que te mantém infeliz, não persistas no erro. Tenta corrigi-la ou segue outro caminho.
• Não permitas nem faças com que os outros sejam responsabilizados pelos teus actos.
• Cumpre com as tuas obrigações e sê pontual; não permitas que te possam apontar o dedo mais tarde por não o fazer.
• Aprende a perder. Se o teu adversário é mais forte, aprende com ele; se escarnece de ti ou faz batota, deixa de jogar.
• Aprende a ganhar respeitando o teu adversário; amanhã pode ser ele o vencedor.
• Controla o ódio e o medo. Não os deixes tomar decisões por ti; podem destruir-te.
• Respeita a Natureza; fazes parte dela. Aprende a apreciar os seus fenómenos. Nunca magoes os animais.
• Se tens amizade ou amor por alguém, diz-lhe; podes não vir a ter outra oportunidade.

Em resumo: Dá importância ao que tem importância!