2005-06-29

Rascunho pop

A chuva batia com força no vidro da única janela da sala. “Este Inverno que nunca mais acaba (tens razão, mas não choveu muito durante o ano passado); não quero saber, detesto a chuva”. O silêncio reinou à minha volta e em mim durante alguns minutos. Diversos números e letras apareciam e desapareciam do ecrã do computador a uma velocidade vertiginosa. “Está quase terminado. Daqui a nada posso ir para casa descansar (tens um compromisso); quero descansar (é importante!); não me interessa, quero descansar.” Ele ia emitir de novo, mas refreei-o. Não dormia há dois dias e queria fazê-lo. O monitor continuava a vomitar números e eu mantive-me atento. A chuva batia com mais força no vidro da janela.
- Ah! Estás aqui!
“Bolas, logo agora”.
- Sim… fiquei um pouco mais. Vais-te embora?
- Ainda não. O que estás a fazer?
“Tens que te livrar dela (eu sei).”
- Nada de especial. Só a verificar os resultados de um programa.
- Queres companhia?
“Manda-a embora (como?); não sei, manda.”
- Preferia ficar sozinho. Não ando muito boa companhia, sabes…
“Se queres que ela se vá embora, tens que ser mais firme (eu sei); não vai resultar.”
- Não sejas idiota. Eu faço-te companhia. Estou só a completar as minhas horas, não tenho nada que fazer. Estar sozinho não é muito bom.
“Eu avisei-te! (deixa-me pensar); não estás a pensar, estás a olhar para as pernas dela.”
Ela puxou uma cadeira e sentou-se ao meu lado. Trazia um vestuário bastante reduzido, que eu não tinha a certeza se respeitava alguma das normas da empresa. É claro que, como superintendente, ela podia fazer o que bem entendesse. E cabia-nos suportá-lo.
- Conta-me lá, o que estás a fazer?
“Ela vai descobrir tudo!”
- Só estou a testar um novo procedimento. Nada de muito interessante.
“Controla-te.”
- Ora, então… Estamos aqui os dois… sozinhos… e tu estás concentrado num mísero programa sem qualquer interesse?
A mão dela começou a vaguear pela minha perna.
“Controla-te.”
- Eu… desculpa, mas preciso mesmo… de testar isto.
- Podes testar depois…
A mão dela continuou a vaguear pela minha perna, ao mesmo tempo que mordiscava uma das minhas orelhas.
“Controla-te (não consigo); precisas que o programa termine… (eu sei!).”
- Olha, eu preciso…
Não me deixou acabar, pois para além da perna e da orelha, assediou-me também os lábios com os dela.
“Já não vejo o monitor! (livra-te dela imediatamente); não consigo… (não consegues, ou não queres?)”
O assédio terminou assim que o computador resmungou “transferência efectuada”. A superintendente largou a minha perna e olhou para o monitor.
- Que é isto?! Que é que estás a fazer?
“Estragaste tudo (não!).”
Descobri que a superintendente tinha um pescoço macio, e que se o apertasse de uma determinada forma ela não conseguia gritar. Não demorou muito até o corpo atraente da minha superiora se tornar frouxo e repousar no chão.
Dirigi novamente a minha atenção para o monitor. A execução do programa tinha sido bem sucedida.
“Agora, sair daqui.”
Esconder o corpo da superintendente atrasou-me. Não tinha a certeza se os minutos de tolerância previstos no plano eram suficientes para uma fuga com sucesso. Saí da sala e tranquei a porta com um código de acesso. De seguida, meti-me no elevador.

4 Comments:

Blogger Nocturno said...

um pouco de leitura pop para variar... estilo nocturnus.

9:01 da manhã  
Blogger Syn said...

és um louco depravado, adorei a descrição de assédio, mas não podia terminar melhor que com numa preversa morte! brilhante saída, fácil mas saborosa.

1:51 da tarde  
Blogger Syn said...

eu estava realmente empolgada a ler isto... e by the way, bom titulo.

1:57 da tarde  
Blogger Nocturno said...

vindo de ti, é um gigantesco elogio :) *

6:12 da tarde  

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