2007-05-11

Mãe

quero gritar
quero rasgar as roupas e a carne e a vida que não mereço
quero fugir para ti e pedir-te perdão
quero acreditar em tudo o que neguei para não te perder de todo
quero calar a dor de viver o inimaginável
quero com as próprias mãos arrancar-te dessa terra
quero gastar a vida num sopro que ta devolva
quero de novo o abrigo do teu colinho
quero chorar até afogar esta tortura
quero mostrar-te que sempre te amei
quero poder ouvir a tua voz só mais uma vez
quero magicamente enganar o tempo para te salvar
quero acreditar em deus ou na heroína
quero morrer para te encontrar
quero abraçar-te Mãe!

Terra

Nunca me senti na minha terra. Lugar algum me fazia sentir em casa.
Nem a aldeia em que nasci, nem os inúmeros sítios onde vivi, nem mesmo a terra e casa que tomei como minhas.
No horror de um dia inconcebível uma grande amiga disse-me:
“Vais descobrir que a nossa terra não é onde nascemos mas sim onde enterramos os nossos mortos”.
Amanhã vou à minha terra. Vou a casa!