2007-11-07

Desgarrada 20 (Inferno)

Escuridão. Dor.
Sons. Dor.
Luz. Dor.
Movimentos. Dor.
Picada. Alívio!
Acordou ao som de vozes alegremente incentivantes, embalado por movimentos ritmados e uma agradável sensação de calor.
A primeira coisa a conseguir interpretar foram os cheiros. Sem dúvida estava num hospital. Pensou “estão a reanimar-me, chamam-me à vida, afinal não morri”.
Depois foram os sons a ganhar significado. Aplausos acompanhavam as vozes risonhas:
- Força! Vai, vai, vai!
Abriu os olhos lentamente e a realidade não encaixou nos parâmetros que tinha predefinido. Porque estava aquele par de mamas enormes a bater-lhe nos olhos?
Tentou focar para além delas. Três velhotas com uniforme de enfermeiras riam matreiramente e aplaudiam saborosamente algo que estava a acontecer por cima dele.
Abarcou a situação mas sem conseguir processá-la: estava a ser vigorosamente montado por uma matulona de fartas carnes.
A coisa fez finalmente sentido. Afinal estava no inferno. Sim. Fazia muito mais sentido. Decidiu intervir:
- Olha lá ò filha, chama o cornudo do teu chefe e diz-lhe que prefiro o castigo do fogo.