2005-09-25

#1 ?

O ragnav, que anda desaparecido seria o personagem ideal para tecer um comentário sobre Braindead- Morte Cerebral, um filme realizado por Peter Jackson e que é simplesmente hilariante (quem imaginaria o realizador da saga Senhor dos anéis metido num filme destes?). A verdade é que ele existe e à medida que me aproximava do fim do filme, depois de ter caído para o lado a rir muitas vezes recordei-me de um mini-conto que em tempos postei, algo sobre os nossos convidados, e imaginei que em vez de uma moto-serra, podia ter optado efectivamente pelo corta relva! =P

ora espreitem : http://www.cinedie.com/braindead.htm

e viva o cinema ao ar livre na cinemateca!

2005-09-22

Sentir?

Dá-me a sensação de que as pessoas se esqueceram de si próprias, do seu conteúdo, da sua alma - vivem baseadas apenas no que existe fora delas. O que mais me custa é concluir que o fazem imitando atitudes de quem as rodeia e não por uma filosofia de vida imparcial e por elas escolhida. Lá está: a vida em sociedade que facilita o "ir na maré" e deseduca no pensar e sentir por si próprio.
Raramente vejo nos olhos de quem passa por mim aquele brilho especial que traduz a alegria de viver ou a libertação para amar... Estarei enganado ou há poucas pessoas felizes? Já ninguém se sente completo com um abraço e palavras doces? Será que todos escondem as emoções numa concha por ser demasiado lamechas demonstrá-las? Ou nem sequer saberão o que são emoções?
Não quero ceder à imodéstia de pensar que sou o único que fica fascinado com um simples pôr-do-Sol, que encontra conforto perto de algumas árvores frondosas ou que se sente intensamente feliz por estar ao lado da pessoa que mais amo.
Mas só consigo descortinar nos meus semelhantes (?) o desprezo por essas coisas tão básicas, gratuitas, belas e importantes, as quais não precisamos comprar - sendo que de algumas delas só temos que saber cuidar e manter, como as florestas ou o mar.
Porque é que dão tanta importância às coisas materiais, tão supérfluas na maior parte dos casos e que saem de moda passados seis meses? Será que o mar passa de moda? Ou a lua? Ou os amigos? Pelos vistos, para quase todos, sim!
Seremos tão poucos os que sentem? Serão "eles" que estão certos?...

2005-09-19

#12 sentir?



Todo o campo regozijava aquelas gargalhadas juvenis, tudo era alegria entre aqueles passinhos rápidos e inocentes, a saia dela voava ao vento a tinha a doce sensação das correrias, ela fugia até não conseguir mais ter fôlego, até que ele a alcançava e abraçava a cintura, rebolando os dois por terra à sombra do choupo, aí ficavam estendidos contando histórias e rindo. Ele olhava-a feliz, olhava a sua pele sedosa sarapintada pelas suaves manchas do sol passando entre os galhos e nessa altura ela sentia-se intimidada por aqueles grandes olhos verdes, ele sorria e ela sorria voltando a cara timidamente para o outro lado e contemplando as múltiplas cores do campo verde pintado pelas flores campestres, o azul permanecia nos seus olhos enquanto o seu corpo se contraía sobre a relva fresca. Ele estendeu-lhe a mão à face como se quisesse dizer que tudo iria ser perfeito sempre e ela voltava a olhar para os seus lindos olhos. A aproximação foi inevitável e entre os suspiros nervosos dela as suas bocas tocaram-se infinitamente doces ao som do regato e mergulharam felizes nos confins dos seus sonhos, abraçando-se na perfeição dos momentos. Ela corou e apertou-o mais, nos braços um do outro permaneceu a esperança de nunca se perderem. Uma voz trovejante rasgou o canto dos passarinhos e ribombou por todo o vale. “ALICEEE, VAI BUSCAR ÁGUA À FONTE!”. Eles olharam-se e sorriram na eternidade, prontamente ela levanta-se deixando-o olhá-la feliz e entre olhares cúmplices ela afasta-se aos tropeções enquanto teimava em não afastar os olhos dele.

imagem de: Ana Piazzardi

2005-09-15

Sublimação da Besta .·.


Evitei mais uma vez a verdade
Ludibriei o caminho já traçado
Ignorei tão cristalina fealdade
Desonrei este coração magoado

Analiso o vil reflexo retornado
Absorvo a paz desta certeza
Abdico deste sonho malfadado
Arquivo esta infame tristeza

Destruirei esta fome abjecta
Levantarei o corpo medonho
Elevarei alto esta alma asceta
Renunciarei ao utópico sonho

2005-09-13

Momento: Povo do Sol

Crianças. São muitas e cantam. Delas sobressai uma rapariga com longos cabelos loiros. A sua voz é tão doce e fina que nos percorre e nos faz soltar o corpo em direcção a ilhas distantes. O mar está feroz e impiedoso. Na praia, as pessoas observam a sua fúria mas não têm medo. Sabem que o mar não se importa com elas; admiram a beleza das ondas a embater nas rochas e esperam. Do mar sai a rapariga dos longos cabelos loiros. Traz boas novas e conforto àquele povo do mar. E a imagem desvanece.

2005-09-10

O Que Somos?

Nós somos é cegos! Fomos vendados pelo palpável, pelos números e pela opinião alheia. Habitamos um alguidar onde nos contorcemos e atropelamos, tentando resistir - desesperadamente e em vão - ao afogamento no mar do tempo e do capital. Subimos uns pelos outros, empurramos os iguais e os menos iguais para a morte, galgamos na direcção da superfície que pensamos existir, ensinamos a prole a fazer o mesmo e definhamos burlados com os nossos modos inconscientes, irreflectidos e egoístas. Mergulhamos na teia do senso comum e na miserável cultura da lama e do insensível. A felicidade persegue-nos e nós evitamo-la. Construímos templos que profanam o futuro e desprezamos as vítimas da nossa ganância. Queimamos o alimento dos nossos filhos e temos a arrogância de pensar que somos lúcidos. Personificamos um hino à violência, à profanação e à decadência. Perante tudo isto, exibimos a bonita bandeira de espécie inteligente.
E o que somos nós?