2005-06-29

#7 sentir?



Caminhava por esses trilhos, vagueava no solo estéril enquanto me perdia na mente, não via para onde ia, simplesmente ia. Andava sem rumo, sem destino e misturava-me na bruma, procurava chegar ao outro lado.
Era outro mundo, um mundo mais vazio, cheio de cor e de morte, ninguém mais se avistava, nem mesmo o “meu cavaleiro alado”, como queria voltar a vê-lo, queria que ele fosse meu, mas ele estaria ternamente apaixonado pela outra pindérica magrizela. Nada; simplesmente o nada banhava a minha humilde existência e corroía a minha alma. Condenada estaria ao sofrimento precoce de quem imagina uma borboleta morrer, porque era isso que eu via, a beleza destruída pela inconsciência, tudo aquilo era belo e mortal, e eu correria um terrível perigo sob o signo daquele perfeito mundo. Um perigo de morte ou pelo menos era o que o meu desejo de protagonismo me dizia, para não me sentir dispensável.
Só aquilo existia; eu, aquele ambiente surreal e as minhas visões, as minhas imagens frágeis e desnecessárias que me apontam o limite e fim… era isto que previa, a destruição, a minha destruição guiada pela minha arrogância contaminada de dor.
Enraivecida por estar só uma vez mais num caminho importante e por ninguém ter dado valor ao que disse, eu sei que existe algo aqui, algo importante, algo novo, digno de se descobrir, porque é que ninguém me acredita? A minha cápsula havia ficado a alguns quilómetros e eu continuava a andar. O meu desejo era latente, queria chegar rapidamente ao outro lado e lá estaria o tesouro prometido, e nunca eles adivinhariam o que me tinham negado!
No bolso apertava um frágil pedaço de papel, tirei-o para fora e vi a imagem, contemplei-a, como era bela, a foto estava rasgada ao meio, o lado que faltava era o sítio perdido do meu pai… ahhh, a culpa foi dele, como pôde ele trocar-nos por aquele rapaz de 25 anos? Mas a minha mãe estava linda e feliz como eu nunca a tinha visto, um sorriso perfeito, não era o sorriso de fotografia antiga, era um sorriso genuíno a preto e branco… queria vê-la assim um dia.
E era este o panorama da minha vida, caminhando para o incerto, uma família destroçada, um coração partido, uma profissão perdida, um descrédito moral infinito… só me tinha a mim para me valer e ainda me destruía na minha insensatez de querer tudo… talvez nada estivesse para lá daquele nevoeiro e sob aquele sol escaldante, mas iria morrer tentando encontrar um meu oásis de felicidade…

4 Comments:

Blogger Nocturno said...

eu queria comentar isto, mas estou a cair de sono e as palavras fogem-me quando assim é. gostei muito deste Sentir, merecias escrever e publicar livros. :)

12:26 da manhã  
Blogger Nocturno said...

erm... gostei muito deste Sentir E também dos outros. ;)

12:26 da manhã  
Blogger Syn said...

lol

registei

2:14 da manhã  
Blogger Meriel said...

Gostei mais deste. É menos triste apesar de tudo. Mas acho que dava pano pra mangas. Podias continuar e escrever um livro. Sabes que sou doida por SFaF e os últimos posts o teu e o do nocturno (acima) estão mesmo a abrir o apetite para uns livrinhos novos.

4:36 da manhã  

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