2006-05-03

A Alma de um Cabide

Hoje de manhã peguei num cabide, tirei a camisa que nele estava pendurada e vesti-a. Atirei o cabide para cima da cama e, já estando atrasado, lancei-me em direcção à porta. Não cheguei lá. Algo me fez parar. Olhei pensativo para o cabide. Parecia-me tristonho, aquele cabide solitário em cima da cama. Olhava em volta em busca de algo e parecia assustado. Fiquei a observá-lo durantes largos minutos. Podia ver-se que o cabide se sentia autenticamente perdido, pela forma como se encolhia e, imóvel, esperava ver ou sentir algo familiar. Quase me vieram as lágrimas aos olhos e voltei para trás. Peguei gentilmente no cabide e voltei a colocá-lo dentro do roupeiro, ao pé dos outros. Recuei dois passos e vi que, agora, a expressão do cabide estava totalmente diferente. Acompanhado pelos outros, que provavelmente seriam os amigos e os familiares, irradiava alívio e felicidade. Olhou para mim, enternecido, e desejou-me uma boa viagem até ao emprego. Disse-lhe adeus e caminhei para a porta.
Hoje em dia sou um homem feliz.
Pelo menos enquanto tomar aquelas coisas.