2005-11-09

#13 sentir?



Pergunto-me até que ponto não há um padrão para todos nós, para todas as situações, para a forma de as encarar… as reacções acabam por se repetir indeterminadamente na esfera da existência, mesmo que os alvos sejam diferentes.
O mesmo aspecto débil atravessa-lhe a face, a mesma respiração superficial, o mesmo desejo de ficar entre nós os que no fundo sempre estivemos mortos, só porque ninguém sabe o que nos reserva o “sono eterno”, este é o mesmo aspecto que todos têm quando agarrados a uma cama, o ar de cordeiro manso e compreensivo, amoroso, dócil… feliz como uma criança a que se entrega um chupa-chupa.
Não procuro respostas para a minha agonia, que nem eu sei definir de que se trata, mas sei essa dor nos acompanha na memória e acaba por estagnar o que sentimos, o que vimos e interpretámos.
Não me cabe a mim explicar o que se passa ou o que se passou, apenas sei que partir é inevitável e não necessariamente mau, mas não há maior dor que a dos que ficam… ainda que nos recusemos a esquecer, igualmente recusamos partir com eles (ainda que Liebestod seja a melhor morte), é mais confortável ficar a ver o vazio que ganha cada peito cada vez que alguém parte, um peito mais leve e inconformado, perdido no seu egocentrismo…
A verdade é que mesmo perante a dor fico aqui, e fico grata por respirar e sorrir por saber que tanto a felicidade como a tristeza são inconstantes sentimentos da graça humana.

3 Comments:

Blogger barbAs said...

Talvez a morte seja um chupa-chupa que não acaba. Mas ainda bem que não sabemos ao certo... Ainda bem que, quem sabe, nem sequer seja importante, para podermos ter sorrisos para levar quando for a nossa vez. Mas o vazio fica lá, e é o vácuo mais pesado. É preciso chorar, parece tudo tão pequeno quando respostas não servem...

8:10 da tarde  
Blogger Syn said...

o que acho piada no chorar o morto... é que o fazemos por nós... choramos com pena nós... e a falta que ele nos fará. não aceitamos facilmente que foi melhor assim...

11:55 da tarde  
Blogger barbAs said...

Tantas vezes... Pior é quando chegamos ao ponto de saturação choramos só o já não termos pena de quem parte, porque nem sempre achamos que é melhor assim...
Quando morrer o meu avô, eu vou chorar porque ele é meu avô, e não vou mais ver a cara dele; mas não vou chorar muito, porque o meu avô já não é o meu avô. É o que o velhinho que jogava comigo à malha se tornou... Mas se morresse o meu irmãozinho... (nó na garganta)
não é dar valor relativo á vida, é ter noção de que seja para levar ou para ter experienciado, deviamos todos ter suficientes momentos e sorrisos quando expiramos. mas o dever humano parece não se aplicar ao universo.
a mim, para quem a morte é quotidiano (cangalheiro desde os catorze) causa-me lágrimas de pena por mim, por eles e por todos, porque é injustiça universal, ver partir quem ainda não coleccionou esses momentos; os outros são lágrimas de saudar a memória e acenar um adeus,em figas de que o album vá bem cheio...
desculpa a verborreia, há muito demais disto dentro de mim...

5:17 da tarde  

<< Home