2005-07-02

#4 hotel

Ela saiu do carro suavemente, olhou em volta e trancou-o. Abandonou o Volvo à sua sorte e encaminhou-se singelamente para a entrada do hotel enquanto vestia o blaser. Parecia uma garça, esbelta e branca, dançando insinuadoramente a saia fluida, cortou-me a respiração… fiquei quedo a vinte metros do hotel observando-a entrar, até que a minha atenção foi quebrada por um buzinar impaciente. Encostei-me a uma ombreira torta de uma casa abandonada cujo telhado há muito já era, cuspi a pastilha e acendi mais um cigarro –tinha tempo, ou melhor queria comprá-lo. Bafejei calmamente tentando varrer da minha mente a delgada figura que vira há pouco enquanto desenhava o quadro que se seguiria. Retomei a custo a caminhada. Passei o guichet apertado no átrio limitado por umas escadas que ficavam à frente da entrada e a porta à direita que dava para uma casa de banho apertada. O balcão não tinha mais de metro e meio e do lado de dentro havia um velho pensionista que me olhava por cima dos óculos curioso, reparando que eu comecei a subir as escadas perdeu o interesse e mergulhou no jornal. O quarto era o mesmo do costume, 213. Subi quatro lanços de escada sem pressa e virei-me para um corredor sinistro, encostei-me à esquerda e caminhei silenciosamente enquanto roçava o dedo na parede rosa velho. Os meus passos não se ouviam na alcatifa vermelha suja e via as portas sucederem-se à direita, a 5, a 6, a 7… cada uma acompanhada por um ruído característico de animais. Finalmente a 13, coloquei a mão na maçaneta e girei-a, ouviu-se o trinco ceder e entrei vigorosamente. Seguiu-se silêncio e o seu rasgar por uma voz feminina: “Quem és tu?”.

1 Comments:

Blogger Nocturno said...

então, já nem se bate à porta?! onde anda o cavalheirismo? :) e o resto? estou a ficar impaciente...

11:44 da tarde  

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