2007-08-28

Desgarrada 15 (enfim, a ira)

O vizinho do homem da tarte de morango repetiu pela terceira vez para o balcão:
- Olhe lá, então a minha torrada, vem ou não vem?
A tarde esfumava-se rapidamente dando lugar ao breu que, dada a época, às sete já imperava. Lá fora, os candeeiros acenderam-se, antecipando-se às estrelas que por vezes a poluição não deixava ver.
O vizinho do homem da tarte de morango repetiu pela quarta vez para o balcão:
- Olhe lá, então a minha torrada, vem ou não vem?
As luzes do restaurante acenderam-se e o palco onde as agora oito pessoas interpretavam mais um dia da sua vida, não sabendo ainda que seria um dia menos vulgar que os outros, pouco atraía a atenção de alguns traunsentes que não paravam, retornando após alguns olhares às suas deambulações de fim de tarde.
O vizinho do homem da tarte de morango repetiu pela quinta vez para o balcão:
- Olhe lá, então a minha torrada, vem ou não vem?
Oito pessoas, pois as restantes três estavam escondidas dos olhares dos traunsentes, estando por outro lado duas delas a ser bastante observadas. Das oito, duas de um lado do balcão, uma do outro lado do balcão, três numa mesa, duas noutra mesa, a formar um cenário por enquanto típico daquele restaurante.
O vizinho do homem da tarte de morango levantou-se do lugar e bradou:
- Estou farto desta merda!
Retirou ao mesmo tempo um enorme taco de basebol que se encontrava escondido nas calças largas, brandindo-o ameaçadoramente.
- Eu parto esta merda toda!
Um dos homens que se encontrava ao balcão comentou, em surdina:
- Bolas, afinal era aquilo...